Artigo publicado na Speak Up, em algum mês do ano de 2002, e traduzido por Nanda.
CANNABIS CAFÉS - LEGALIZAR????
A Grã-Bretanha rompeu com os Estados Unidos. Pelo menos na forma de combater a maconha, optando pela tolerância. Já antevendo essa mudança, os empresários do setor se organizaram para tirar proveito. Quem estará certo?
No começo de 2002 a Grã-Bretanha estava atordoada pela exposição constante à maconha. Por qualquer razão a droga estava presente na mídia. Os representantes sindicais consideravam-na uma alternativa para o chocolate. Os doentes precisavam para o alívio das dores. E até o príncipe Harry escandalizou a nação por ficar “chapado” também. Nesse meio tempo o governo decidiu reduzir a pena pelo uso da maconha, e por toda a Grã-Bretanha uma dúzia de Cannabis Cafés de estilo holandês estão se preparando para abrir. Um dos primeiros será em Edimburgo.
O editor Kevin Williamson me contou sobre o tipo de lugar que está planejando inaugurar:
Kevin Williamson: Eu gostaria que fosse um ambiente diferente dos pubs normais. Eu não quero que seja lotado de bêbados briguentos e toda aquela cultura de violência machista que... bem, nem todos os pubs são assim, mas podemos encontrar esse tipo de ambiente nas Escócia todas as noites de sexta e sábado. O que eu quero é um lugar descontraído, onde você pode ir, sentar e conversar, ouvir música boa - um lugar cultural: teremos uma livraria, você sabe, e teremos apenas... um lugar para sentar e conversar.
Rebel Inc
O nome do café será Rebel Inc. É também o nome da editora de Kevin Williamson, que descobriu escritores com Irvine Welsh, famosos pelo romance “Transpotting”, que foi adaptado para um filme de grande sucesso. A história de passa no mundo esquálido dos dependentes de heroína de Edimburgo. O problema das drogas pesadas é também umas das motivações para Williamson abrir seu café:
Kevin Williamson: Bem, por outro lado você tem o problema das drogas pesadas, que saíram do controle na Grã-Bretanha. Temos os piores problemas com esse tipo de entorpecentes em toda a Europa. Temos estimativas, hoje, de 30 a 50.000 dependentes de heroína na Escócia. Nós temos os níveis mais altos de todos os tempos de mortes causadas por drogas. E eu acho que uma das primeiras reações é estabelecer uma diferença entre a cultura da heroína e a cultura da maconha - tirar a maconha da equação e para de desperdiçar o tempo da polícia. Há muitas razões, mas o momento é esse porque a maconha foi reclassificada. O governo britânico está se distanciando das regras americanas há muito tempo e isso significa que é essa a hora certa de ir um pouco mais longe e ter a certeza de resolver essa questão de uma vez por todas.
A indústria do sexo
Kevin Williamson espera que a reclassificação da maconha - da classe B para a classe C - irá contribuir para o funcionamento do Rebel Inc. Em Stockport, Manchester, um Cannabis Café aberto em setembro passado foi atacado várias vezes. Williamson espera também que Edimburgo seja mais receptiva. A cidade já possui uma maneira inovadora de lidar com a questão da prostituição:
Kevin Williamson: A polícia de Edimburgo, as autoridades locais e os donos das saunas entraram em um acordo informal - não diferente do que acontece em Amsterdã entre a polícia, as autoridades locais e os donos de coffee-shop. E isso é baseado em puro pragmatismo - por que manter esse assunto no submundo, se isso só vai gerar maiores problemas? Então, o que foi feito, diferente de Glascow, onde tentaram manter as prostitutas nas ruas e conseguiram, Edimburgo conseguiu manter a prostituição sob controle, até certo ponto, no sentido que há apenas aproximadamente 20 ou 30 prostitutas de rua em Edimburgo, em contradição às mais de mil em Glascow. Em Edimburgo houve apenas um caso de assassinato de prostituta nos últimos 10 anos, e foi resolvido em dois dias. Em Glascow, houve 11 casos não resolvidos. Se funcionou para as prostitutas, se funcionou para a indústria do sexo em Edimburgo, então por q não funcionaria para a questão da maconha? Você sabe, por que manter isso no submundo se só causa mais problemas?
Suporte Real
As pesquisas sugerem que o café de Williamson será popular em Edimburgo - 80% das pessoas aprovam a idéia. E ele também pode ter suporte real. Apesar dos seus princípios socialistas, ele me contou que ficará muito contente em receber o príncipe Harry, assim que ele fizer 18 anos.
Kevin Williamson: Sem problemas. Ele pode entrar, ele será bem-vindo para sentar e provavelmente conseguirá maconha de melhor qualidade no coffee-shop do que com seus amigos do pub. Sem problemas mesmo. Na verdade, mandarei um convite quando o café abrir.
OS TEMPOS ESTÃO MUDANDO...
Por muitos anos a atitude britânica em relação a todas as drogas recreacionais tem sido de “tolerância zero”. Agora, em relação à maconha passou a ser mais tolerante. Em outubro passado o Ministro do Interior David Blunkett comandou um estudo sobre a droga e concluiu que ela não é tão perigosa quanto imaginavam. Os especialistas compararam a droga com uma ida a uma academia de ginástica, e recomendaram que a maconha deve ser reclassificada. Em julho de 2003, ela deverá passar da categoria B das substâncias ilegais pra a categoria C, junto com esteróides e anfetaminas. Mas não sem controvérsias: o Consultor Governamental Keith Hellawell renunciou em protesto logo após o ministro Tony Blair ter defendido o movimento. Blunkett, em parte, baseou sua decisão no esquema “lighter touch” de Lambeth, Sul de Londres (onde a polícia não prende mais as pessoas por possuírem pequenas quantidades da droga). Antecipando a mudança da lei, mais duas zonas de tolerância oficialmente ilegais apareceram em Manchester e Bournemouth, onde estão localizados os primeiros coffee-shops holandeses do país - o Dutch Experience (Experiência Holandesa) e Dutch Experience 2, que foi inaugurado em abril passado. Nol van Schaink, um fisiculturista holandês, fundou os dois negócios e está planejando abrir outros.Ele afirma ter se inspirado nos ativistas que mudaram a lei em seu país, repetidamente testando-a. Desde os anos 70 os holandeses tratam as drogas como um problema social, e não criminal, e toleram o uso da maconha - mesmo tendo taxas menores que as britânicas de uso de drogas leves e pesadas. Enquanto esses fatos vêm encorajando países por toda a Europa a liberar suas leis, nos Estados Unidos a “guerra contra as drogas” continua. Estima-se que 10 milhões de americanos fumam maconha regularmente. E 700.000 desses usuários passam por volta de um ano na cadeia por um simples cigarro de maconha.